Desirèe Luíse
desireeluise@aprendiz.org.br
“Não tinha clareza de como colaborei para manter diferenças entre os sexos dentro da sala de aula, que eu mesma condeno e quero superar”. A confissão é de uma professora do ensino fundamental de uma escola municipal de Marília, cidade do interior de São Paulo. Os 100 anos do Dia Internacional da Mulher, comemorado na terça-feira (8/3), convidam a refletir sobre o assunto.
Na ocasião, a professora participava de um projeto de extensão do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero (Lieg) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Durante 2010, ocorreu o módulo 1, intitulado “Gênero na Escola: aprimorando conceitos e discutindo práticas”. O projeto reuniu dados sobre a presença de práticas sexistas no ensino infantil e fundamental.
“As diferenças entre homem e mulher são culturais e não biológicas. O processo de construir essa diferenciação começa, principalmente, na escola, aos seis anos”, constata a coordenadora do Lieg, Lídia Possas. “Quando a criança passa pelas primeiras séries, ainda não distingue. O menino brinca com pulseira e a menina com bola”.
“Os professores falam de cores e brinquedos de meninos e meninas, separam as crianças em filas por gênero, bem como em atividades diferenciadas. Não envolvem ambos os sexos para um trabalho coletivo. Muitas vezes estimulam mais os meninos a falarem”, exemplifica a professora dedicada à pesquisa sobre a temática feminina no país há vinte anos, Tânia Brabo.
Os resultados do projeto desenvolvido pelo Lieg foram discutidos com uma turma de 40 professores em atividades como aulas expositivas, debates, filmes e a análise de contos infantis.
“Muitas professoras ficaram assustadas, pois perceberam com que força acontece a diferenciação na questão de gênero, não apenas na escola, mas no dia-a-dia. Algumas falaram de suas experiências em casa com o marido”, revela a coordenadora.
De acordo com Lídia, os professores e professoras ficam à mercê de modelos curriculares pré-fabricados, que reforçam os papéis normativos tradicionais do homem e da mulher na sociedade.
Segundo Tânia, a história oficial transmitida para os alunos não contempla como as mulheres têm contribuído. “Se a professora ou professor não tem a consciência dessa invisibilidade das questões ligadas à mulher, vai tratar como natural, não possibilitando a discussão da desigualdade dentro da sala”, aponta Tânia. “A questão de gênero não é trabalhada de forma multidisciplinar”.
Consequências
De acordo com as professoras, quando os estereótipos são mantidos na escola, os alunos absorvem e passam a reproduzir no cotidiano. “Acham que há comportamentos inadequados para as meninas, profissões que são de homens e, portanto, mulheres não podem escolhê-las”, diz Tânia.
Um dos reflexos da desigualdade que começa dentro de sala de aula ainda é o salário. Mulheres ganham 76% do salário pago aos homens, segundo o último estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Além disso, lembra Tânia, quando mulheres são eleitas há dificuldades de aceitação. Outro exemplo são os casos de violência doméstica.
Até a universidade
O trabalho com a questão de gênero não tem espaço em sala, desde a educação infantil até o ensino superior. Apenas há dois anos a disciplina abordando a história de gênero foi acrescentada ao curso de ciências sociais da Unesp. “As universidades deveriam estar mais abertas à realidade”, afirma Lídia.
“Passamos a não ter direitos, porque todo um modelo não contemplou as mulheres como deveria. É preciso rever paradigmas a todo o momento, trabalhar nessa questão e tornar mais público”, conclui.
desireeluise@aprendiz.org.br
“Não tinha clareza de como colaborei para manter diferenças entre os sexos dentro da sala de aula, que eu mesma condeno e quero superar”. A confissão é de uma professora do ensino fundamental de uma escola municipal de Marília, cidade do interior de São Paulo. Os 100 anos do Dia Internacional da Mulher, comemorado na terça-feira (8/3), convidam a refletir sobre o assunto.
Na ocasião, a professora participava de um projeto de extensão do Laboratório Interdisciplinar de Estudos de Gênero (Lieg) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Durante 2010, ocorreu o módulo 1, intitulado “Gênero na Escola: aprimorando conceitos e discutindo práticas”. O projeto reuniu dados sobre a presença de práticas sexistas no ensino infantil e fundamental.
“As diferenças entre homem e mulher são culturais e não biológicas. O processo de construir essa diferenciação começa, principalmente, na escola, aos seis anos”, constata a coordenadora do Lieg, Lídia Possas. “Quando a criança passa pelas primeiras séries, ainda não distingue. O menino brinca com pulseira e a menina com bola”.
“Os professores falam de cores e brinquedos de meninos e meninas, separam as crianças em filas por gênero, bem como em atividades diferenciadas. Não envolvem ambos os sexos para um trabalho coletivo. Muitas vezes estimulam mais os meninos a falarem”, exemplifica a professora dedicada à pesquisa sobre a temática feminina no país há vinte anos, Tânia Brabo.
Os resultados do projeto desenvolvido pelo Lieg foram discutidos com uma turma de 40 professores em atividades como aulas expositivas, debates, filmes e a análise de contos infantis.
“Muitas professoras ficaram assustadas, pois perceberam com que força acontece a diferenciação na questão de gênero, não apenas na escola, mas no dia-a-dia. Algumas falaram de suas experiências em casa com o marido”, revela a coordenadora.
De acordo com Lídia, os professores e professoras ficam à mercê de modelos curriculares pré-fabricados, que reforçam os papéis normativos tradicionais do homem e da mulher na sociedade.
Segundo Tânia, a história oficial transmitida para os alunos não contempla como as mulheres têm contribuído. “Se a professora ou professor não tem a consciência dessa invisibilidade das questões ligadas à mulher, vai tratar como natural, não possibilitando a discussão da desigualdade dentro da sala”, aponta Tânia. “A questão de gênero não é trabalhada de forma multidisciplinar”.
Consequências
De acordo com as professoras, quando os estereótipos são mantidos na escola, os alunos absorvem e passam a reproduzir no cotidiano. “Acham que há comportamentos inadequados para as meninas, profissões que são de homens e, portanto, mulheres não podem escolhê-las”, diz Tânia.
Um dos reflexos da desigualdade que começa dentro de sala de aula ainda é o salário. Mulheres ganham 76% do salário pago aos homens, segundo o último estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Além disso, lembra Tânia, quando mulheres são eleitas há dificuldades de aceitação. Outro exemplo são os casos de violência doméstica.
Até a universidade
O trabalho com a questão de gênero não tem espaço em sala, desde a educação infantil até o ensino superior. Apenas há dois anos a disciplina abordando a história de gênero foi acrescentada ao curso de ciências sociais da Unesp. “As universidades deveriam estar mais abertas à realidade”, afirma Lídia.
“Passamos a não ter direitos, porque todo um modelo não contemplou as mulheres como deveria. É preciso rever paradigmas a todo o momento, trabalhar nessa questão e tornar mais público”, conclui.
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